Saúde Mental: A Vida Acontece na Mente
- Selma Rodrìgues
- 19 de mar.
- 3 min de leitura
Atualizado: 19 de mar.
Cuidar da saúde mental não é um luxo, é necessidade. É o que permite que a gente acorde de manhã e tenha energia para enfrentar o dia, que a gente ame e se sinta amado, que o caos do mundo não nos engula inteiros. Mas tem dias em que a mente pesa, o peito aperta e tudo parece uma luta. E tá tudo bem – ninguém passa pela vida ileso.
A questão não é evitar o sofrimento, mas aprender a atravessá-lo. Assim como um corpo precisa de descanso, de comida boa, de movimento, nossa mente precisa de espaço para respirar, de afeto e, muitas vezes, de ajuda.

Fig. 1 Colagem Artística de Selma Rodrigues Soares
A saúde mental é uma tapeçaria tecida por muitos fios. Experiências de infância, ambiente familiar, eventos traumáticos, rotina, relações… tudo isso deixa marcas invisíveis que moldam como nos sentimos e reagimos. Há estudos que mostram que uma rede de apoio forte – amigos, família, comunidade – pode ser um escudo contra o adoecimento emocional. Mas e quando esse apoio falta? Quando o mundo parece um lugar frio e hostil? Aí entra a psicoterapia, um espaço onde você pode colocar as dores na mesa e, com o tempo, reorganizar os pedaços da vida de um jeito que faça sentido.
O jeito como a gente sente e expressa o sofrimento também passa pelo gênero. Homens, por exemplo, foram ensinados a engolir o choro, a fingir que tá tudo bem, porque mostrar fragilidade "não é coisa de homem". Mulheres, por outro lado, são cobradas para serem sempre fortes, mas sem deixar de ser cuidadoras. Resultado? Muita gente sufocando emoções que deveriam ser escutadas. E se a gente pudesse mudar essa lógica? Se permitíssemos que os homens chorassem e as mulheres descansassem? Se entendêssemos que cada pessoa sente de um jeito, e que tudo bem não estar bem?
A ciência também mostra que a saúde mental tem um lado biológico. Nosso cérebro é um emaranhado de conexões químicas e elétricas que influenciam nossas emoções. Às vezes, um desequilíbrio nos neurotransmissores pode aumentar a ansiedade ou levar à depressão. E tem mais: a genética também entra no jogo. Algumas pessoas têm maior predisposição para desenvolver transtornos mentais – mas predisposição não é sentença. O ambiente, os hábitos e, principalmente, o acesso ao tratamento fazem toda a diferença.
E aí vem a cultura, esse monstro invisível que dita o que é certo e errado sem a gente nem perceber. Em algumas sociedades, saúde mental ainda é tabu. Pedir ajuda é visto como fraqueza, e quem sofre acaba se isolando. Mas cultura também pode ser cura. Comunidades que acolhem, que validam a dor do outro, que permitem a vulnerabilidade, são protetoras da saúde mental. Quando falamos de racismo, machismo e outras formas de opressão, a coisa fica ainda mais séria. O peso de ser constantemente desvalorizado, silenciado ou invisibilizado machuca a alma. O mundo precisa mudar, mas enquanto isso não acontece, cuidar da mente é um ato de resistência.

Fig. 2 Foto de Alexandro David httpswww.pexels.compt-brfotofoto-de-silhueta-de-mulher-durante-o-amanhecer-1835016
No fim das contas, a vida acontece na mente. É nela que moram nossos sonhos, nossos medos, nossos afetos. Se tem algo que você não precisa carregar sozinho, é o peso da própria cabeça. Se precisar de ajuda, peça. Se puder acolher alguém, acolha. Porque cuidar da saúde mental não é um caminho solitário – é um movimento coletivo de afeto e reconstrução.
REFERÊNCIA
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. Tradução de José A. F. de Lima et al. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
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