As máscaras que usamos todos os dias

Desvendando os Mistérios do Falso Self e do Verdadeiro Self: Uma Jornada para a Autenticidade

O Teatro da Infância

Você já sentiu que está interpretando um papel? Como se, em vez de ser você mesmo, estivesse vestindo uma máscara para se encaixar nas expectativas dos outros? Donald Winnicott, um dos grandes nomes da psicanálise, explorou esse fenômeno e o chamou de "falso self".

Fig. 1 - Colagem artística de Selma Rodrigues Soares

Imagine uma criança que, desde muito pequena, percebe que algumas expressões suas não são bem recebidas pelos pais ou cuidadores. Ela aprende, então, a se moldar, a agradar, a evitar conflitos. Aos poucos, constrói um “eu” adaptado, um personagem que garante amor e aceitação. Mas, lá no fundo, existe um outro “eu” – espontâneo, criativo, verdadeiro. Esse é o "verdadeiro self", a essência genuína que, muitas vezes, fica sufocada pela necessidade de pertencimento.

Quando a Máscara Pesa

O problema é que, com o tempo, essa máscara pode se tornar tão rígida que nos esquecemos de quem realmente somos. Nos esforçamos para atender expectativas, desempenhar papéis e sermos "bem-sucedidos", mas, lá dentro, algo parece faltar. Pode ser um incômodo sutil ou uma sensação esmagadora de vazio. Em algum momento, surge a pergunta: quem sou eu, de verdade?

Reconhecer que carregamos um falso self não é fácil. Às vezes, ele está tão bem construído que nos convencemos de que somos exatamente essa versão que mostramos ao mundo. Mas, se prestarmos atenção, percebemos os sinais: cansaço emocional, ansiedade constante, dificuldade de sentir prazer genuíno, uma sensação de estar deslocado, mesmo quando rodeado de pessoas.

O Caminho de Volta para Si Mesmo

Desconstruir o falso self e resgatar o verdadeiro self não acontece da noite para o dia. É um processo. É como descascar uma cebola, camada por camada, até encontrar o que há no centro. E isso exige coragem, porque muitas dessas camadas foram criadas para nos proteger.

Esse caminho passa por um mergulho profundo no autoconhecimento. Significa questionar crenças, desafiar padrões, permitir-se sentir e experimentar a vida sem tantas amarras. É aprender a se ouvir de novo. Muitas vezes, a ajuda de um terapeuta pode ser essencial para guiar essa jornada, oferecendo um espaço seguro para explorar essas camadas sem medo.

Fig. 2 - Colagem artística de Selma Rodrigues Soares

O Medo de Ser Autêntico

Pode parecer contraditório, mas ser autêntico assusta. Isso porque, ao longo da vida, aprendemos que é mais seguro nos encaixar do que nos destacar. Mas viver uma vida inteira tentando corresponder às expectativas dos outros pode nos afastar de quem realmente somos.

Construir o verdadeiro self é um ato de amor-próprio. É permitir-se errar, mudar de ideia, expressar sentimentos sem medo de rejeição. É aprender a dizer “não” sem culpa e a dizer “sim” apenas quando realmente quisermos. É resgatar aquela criança que um dia soube ser espontânea, criativa e livre.

A Recompensa da Autenticidade

O caminho para a autenticidade pode ser desafiador, mas a recompensa vale cada passo. Encontrar-se consigo mesmo traz leveza, propósito e uma nova forma de viver as relações. Afinal, quando nos mostramos como realmente somos, atraímos pessoas que nos aceitam de verdade. E não há nada mais libertador do que isso.

Seja paciente consigo mesmo. O verdadeiro self não surge de um dia para o outro, mas a cada pequena escolha de autenticidade, ele se fortalece. E, no fim, perceberemos que a vida fica muito mais bonita quando paramos de atuar e começamos a simplesmente ser.

REFERÊNCIA

WINNICOTT, D. W. O conceito de falso self. In: WINNICOTT, D. W. Tudo começa em casa. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 53-58.

WINNICOTT, D. W. Uma nova luz sobre o pensar infantil. In: WINNICOTT, C.; SHEPHERD, R.; DAVIS, M. Explorações psicanalíticas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. p. 119-123.